O amor tem sempre um plano

A escolha da trilha (“Dreams”, The Cranberries) é simbólica. Não estamos diante de mais uma ode ao “mãe perfeita” — estamos diante de um olhar para quem ainda não pôde ser chamada de mãe, mas já materna em desejo, esperança e dor. A estratégia de marca aqui é clara: sair do lugar-comum publicitário e entrar na arena das conversas reais. E os números mostram que acertaram: milhares de comentários nas redes refletem identificação genuína e acolhimento.

Mas a campanha não parou no vídeo. O Boticário foi além: parceria com a B2Mamy para videocasts, grupos no WhatsApp para apoio emocional, escolha de Mariana Rios (ela mesma uma voz pública sobre infertilidade) como embaixadora. Ou seja: não venderam só produto — entregaram comunidade.

Por que isso importa no radar do marketing?

Porque sinaliza uma mudança de era. Estamos diante de um consumidor que espera mais do que histórias bonitas: ele quer marcas que saibam ouvir, acolher, abrir espaço. O Boticário entendeu que tocar um tema difícil gera ruído, mas também fidelidade. E fidelidade vale ouro.

O histórico que sustenta a coragem

O Boticário não chega nessa conversa do nada. Nos últimos anos, a marca vem construindo um repertório consistente de campanhas sensíveis: abordou o esgotamento materno, os julgamentos sociais na primeira infância, os desafios da adolescência. Essa coerência dá legitimidade à ação de 2025 — o público reconhece que não é oportunismo pontual, mas um posicionamento que amadureceu com o tempo.

No mercado, poucas marcas exploram temas difíceis no Dia das Mães. A maioria segue com roteiros fáceis: flores, abraços, laços de fita. O Boticário escolheu o terreno mais arriscado, mas também mais poderoso: aquele que se conecta com verdades incômodas.

O impacto emocional medido em respostas

Basta percorrer os comentários nas redes para entender o alcance: mulheres e homens agradecendo a marca por dar visibilidade ao que normalmente é invisível. Histórias reais de luta, dor, desistência e milagre pipocam embaixo do vídeo, transformando uma peça publicitária em espaço de catarse coletiva.

E essa é a lição: campanhas que acolhem geram engajamento real. Não é apenas sobre números, mas sobre conversas. O Boticário não falou só com consumidoras — falou com pessoas.

Reflexão final: o que marcas precisam aprender?

Entrar em temas sensíveis não é para qualquer marca. Exige consistência, cuidado, escuta. É preciso evitar cair no tom de exploração, transformar intenção em ação (como o grupo no WhatsApp, por exemplo) e dar continuidade — porque abrir uma ferida emocional e depois sumir é pior do que não abrir.

O Boticário entregou um case de marketing corajoso. Ele mostra que marcas não precisam só ocupar o palco nas vitórias, mas também se ajoelhar no chão ao lado das dores. Quem entende isso não faz campanha: faz história.